O Acesso Universal no Combate ao Câncer
- Dra. Larissa Costa
- 17 de out. de 2024
- 5 min de leitura
O combate ao câncer, como sempre digo aos meus paciências no consultório ou através das informações que compartilho no meu perfil do Instagram, é de acesso universal, uma vez que, primeiramente, ele é feito através da adoção de um estilo de vida saudável, que pode ser adotado de imediato ao remover dos hábitos as seguintes práticas:
O consumo de tabaco
O tabagismo está associado a um aumento na carga mutacional em células somáticas. Um dos fatores está na má replicação do DNA danificado por agentes carcinógenos presentes no tabaco, outro seria a ativação de processos mutacionais endógenos.
O tabagismo altera o DNA somático principalmente por meio de mutações e modificações epigenéticas. Estudos mostram que o fumo do tabaco aumenta significativamente a carga mutacional nas células epiteliais brônquicas, adicionando de 1.000 a 10.000 mutações por célula. Isso inclui assinaturas mutacionais distintas de substituições e inserções/deleções.
Além disso, o tabagismo está associado a alterações epigenéticas, como padrões alterados de metilação do DNA, que podem afetar a expressão gênica e contribuir para a carcinogênese.
Os aldeídos presentes na fumaça do tabaco são agentes carcinogênicos predominantes que induzem adultos de DNA mutagênicos e inibem a reparação do DNA, exacerbando o dano genético. Essas alterações podem levar a mutações em genes supressores de tumor e vias de sinalização celular, aumentando o risco de desenvolvimento de câncer.
Portanto, o tabagismo promove tanto mutações diretas no DNA quanto alterações epigenéticas, contribuindo para a heterogeneidade celular e o desenvolvimento de câncer.
A ingestão excessiva de bebidas alcóolicas
O consumo excessivo de álcool também está associado a um risco aumentado de vários tipos de câncer, incluindo câncer de boca, esôfago, fígado, mama e intestino. O etanol, presente nas bebidas alcoólicas, é metabolizado em acetaldeído, um carcinógeno classificado pelo IARC como Grupo 1, que pode causar danos ao DNA e interferir na síntese e reparo do DNA. Além disso, o etanol e o acetaldeído podem alterar a metilação do DNA, contribuindo para a carcinogênese.
A falta de atividade física
O sedentarismo, ou a falta de atividade física regular, é outro fator de risco significativo. Está relacionado ao aumento do risco de câncer de cólon, endométrio e mama. Os mecanismos biológicos que podem explicar essa associação incluem alterações nos hormônios metabólicos e sexuais, resistência à insulina e inflamação crônica. O sedentarismo pode levar a um perfil cardiometabólico adverso, que é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento de câncer.
Obesidade
A obesidade aumenta o risco de desenvolvimento de câncer através de vários mecanismos interligados, incluindo alterações hormonais, inflamação crônica e desregulação metabólica.
Primeiramente, a obesidade está associada a níveis elevados de insulina e do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1). Esses hormônios promovem a proliferação celular e inibem a apoptose, criando um ambiente favorável ao desenvolvimento tumoral. Além disso, a obesidade leva a um aumento na produção de adipocinas, como a leptina, que tem efeitos pró-inflamatórios e pode promover a angiogênese e a proliferação celular.
Note que a obesidade e o sedentarismos são risco diferentes, que podem se somar. Mesmo quem não tem obesidade ou excesso de peso, deve praticar atividade física.
Alimentos industrializados
Finalmente, os alimentos processados ou ultraprocessados muitas vezes contêm aditivos, conservantes e outras substâncias que, em excesso, podem contribuir para o risco de câncer. Dietas ricas em alimentos processados e pobres em nutrientes podem levar a deficiências nutricionais e ao aumento do risco de câncer.
Estudos epidemiológicos indicam que o consumo elevado de alimentos ultra-processados está associado a um risco aumentado de câncer colorretal, de mama e pancreático, entre outros. Um aumento de 10% na proporção de alimentos ultra-processados na dieta foi associado a um aumento significativo no risco de câncer em geral e de câncer de mama.
Como geneticista, cabe-me fazer esse alerta no intuito de mostrar que as práticas relacionadas à formação de cânceres podem ser combatidas com prevenção, adotando um estivo de vida saudável, como disse, removendo hábitos nocivos, como é o tabagismo, enquanto outros novos são adquiridos, como a moderação de bebias alcóolicas, uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais, e o esforço para começar uma atividade física de forma regular. Portanto, como é possível perceber, são soluções gratuitas e universais, que estão ao alcance de todos.
Dra. Larissa Costa
A Médica Geneticista
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